terça-feira, 15 de junho de 2004

O Cheirinho

"Penso que o cheiro do Brasil depende do ângulo de visão daquele que cheira. ?Se? olhar para os vastos campos cultivados ele tem cheiro de esperança; ?Se? para os milhões de famintos que sobrevivem abaixo da linha da pobreza, tem o cheiro da miséria; ?Se? olhar para as escolas - instituições seletivas e ocupadas em formar profissionais com visão exclusivamente tecnicista -, o Brasil tem cheiro de sucata; ?Se? para a degradação ambiental acelerada, tem o cheiro da ignorância e da exploração irracional e burra; ?Se? olhar para os grandes centros urbanos, tem cheiro de sangue recém-derramado; ?Se? para os programas dominicais da TV, tem cheiro de interesses escusos, deterioração do intelecto coletivo e imbecilização das massas; ?Se? olhar para a exploração da mão-de-obra infantil, o Brasil tem o cheiro aviltante de hienas se alimentando de carniça; ?Se? para a ideologia do lucro a qualquer custo, do ?levar vantagem em tudo? e para o caráter predador das relações humanas, tem o cheiro da tragédia; ?Se? olhar para injusta distribuição de rendas e para a concentração absurda de riquezas, tem o cheiro do risco de crises permanentes e incontroláveis; ?Se? olhado pelos oitenta por cento dos indivíduos que compõem universo político e suas instituições, o Brasil tem o cheiro de lixo recoberto por moscas varejeiras. Não obstante, ?Se? o observador olhar para as suas imensas e incontáveis belezas naturais e para a determinação dos seus homens de boa vontade, o Brasil tem o cheiro do sonho, que insistimos em sonhar, apesar de tudo."

Afonso - Guaxupé - MG (retirado dos comentários do artigo de Luciano Pires)

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